Cultura em Chamas (de Negligência)
Na
noite de domingo (02), fiquei um tanto desolado. Como foi difícil receber a
notícia do incêndio que tomava conta do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Um
acervo antropológico, arqueológico, etnológico de valor inestimável para a
história do Brasil. Luzia, ‘a primeira brasileira’, nome dado ao fóssil humano
mais antigo já encontrado em toda América do Sul, fazia parte do Museu. Luzia e
outros tantos exemplos que poderiam ser citados tornaram-se pó. E na miscelânea
de sentimentos, assistindo à TV, ouço o que seria a voz do Ministro da Cultura,
Sérgio Sá Leitão, dizendo da “negligência”, em uma espécie de lavagem de mãos
de Pôncio Pilatos. Uma tentativa que dar tom político ao acontecido.
Encontrar
um culpado, neste momento, é uma tentativa de acalentar o desastre do prédio
histórico da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. Mas a conta é outra: A
Cultura, dentre as esferas de Políticas Públicas, é costumeiramente deixada em
um segundo escalão. Em tempos de crise e em ano eleitoral, então, não há quem
se desgaste com algum discurso sobre isso. Mas a tal negligência, citada pelo
Ministro, é verídica. As verbas destinadas à manutenção do Museu vinham sendo
reduzidas, nos últimos anos. Chegou a fechar suas portas por falta de repasses
para pagamento dos funcionários, em 2015. E, em tempo: o último presidente a
visitar o Museu Nacional, foi Jucelino Kubitschek.
Acontece
que este incêndio, que até pode servir de alarde à outros espaços culturais
pelo país, para que sejam revistas as medidas de preservação e manutenção, não
será o último e apenas endossou a lista de patrimônios histórico-culturais que
caíram pelo descaso. O Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, fora alvo, em
2015.
E,
alterando o prisma, vi o relato do cidadão poços-caldense Albert Mareca, na
última semana, recordando que há 2 anos, um incêndio criminoso destruía a Casa
de Chá, ponto focal do Recanto Japonês. O ponto turístico, visitado por
milhares de pessoas, que alimentava os cartões-postais da cidade. E por mais
que as causas sejam outras, fica evidente o modo como a Cultura é posta de
lado, deixando o questionamento de quantos patrimônios e espaços culturais que
conhecemos e que podem ter o mesmo fim.
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Foto: Reuters/Ricardo Moares |
O incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, por sua grandeza, será exemplo das consequências da atitude de cortes de gastos irresponsáveis, como a Lei do Teto de Gastos. Em conversa com Raphael Borella, Mestre em Análise de Políticas Públicas, ouvi a seguinte reflexão: “Este infeliz acontecimento, com consequência seríssimas para o futuro do Brasil e de toda a humanidade, é o tipo de acontecimento que se vê em países que estão em guerra, com destruição de patrimônio histórico, cultural... E há tempos, o Brasil está em guerra. Mas é uma guerra diferente, pois é bem silenciosa - para os que não tem ouvidos atentos - que pode ser tão perigosa quanto essas bem barulhentas.”
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