Um Dia


   
Por: Lucas Toledo

     Meu avô, um dos homens com a mente mais interessante que já conheci e que gastaria horas a fio contando as histórias que presenciei, as que ele me contou e as que contam dele, tinha lá suas peculiaridades. Um exemplo é que preferia contar a vida em meses – e não anos – e permitiu-se festejar seus 1000 meses.  Mas o que quero contar é que esta semana, quando completei 300 meses, voltou à minha mente uma indagação que ele se fazia e me fez em algumas ocasiões: “Um dia. É um dia a mais ou um dia a menos de vida?”

     Pra responder, eu me apegava ao conceito de que a resposta de cada um estaria relacionada diretamente ao humor, ao momento, ou até a cultura que trouxesse consigo. Era assim como perguntar sobre um copo meio cheio ou meio vazio.

     Mas neste Doze de Julho, esta pergunta voltou e me fez travar um raciocínio maior: Não seria nem nossa perspectiva nem nossa plenitude de vida. A resposta não deveria variar de acordo com a idade, tão pouco com o fascínio por tudo que já viveu.

     Um dia a mais denota que você acrescentou mais uma gotinha de vida; mais uma página escrita. E um dia a menos, trás a ideia de que você se apegou à vida a ponto de não querer que ela se acabe. E, finalmente, senti que a verdadeira resposta está em "Um Dia".

     A gente deve, com o passado, aprender e refletir, e, com o futuro, analisar e trilhar; mas, essencialmente, ter os pés no HOJE. No nosso DIA, Vô Múcio. Somente assim conseguiremos entender um pouco dessa nossa passagem, dar um propósito para ela e deixar nossa marca no mundo.

     A grande questão é que não é fácil e estou ciente de que não há receita para isso. Ser pleno em nosso dia parece requerer mais esforços que aprender um idioma novo, passar em uma prova muito concorrida ou completar uma corrida de longa distância. Hoje, eu acho isso. Mas eu tenho meus 300 meses e não seus 1123. Quem sabe, mais pra frente, eu consiga mudar minha opinião sobre isso e viver um pedaço das tantas experiências que ele viveu. (E é o que espero)

“Não há, no mundo, ninguém sem alguma angústia.
 Mas, nesses momentos difíceis, vou pendurar uma tabuleta com a seguinte frase: VAI PASSAR”

Notas:
>> Múcio F. Toledo, o Vô Múcio ou Professor Múcio (como também era chamado), nasceu em 07 de Dezembro de 1922 e faleceu em 27 de Julho de 2015, aos 1123 meses (93 anos).

>> Outro exemplo da peculiaridade que foi ter o conhecido é que, quando ia a noite com meu pai em sua casa, e algum silêncio brotava na conversa, ele olhava pra mim e tínhamos os seguinte diálogo:
- Lucas...
- Oi.
- Lucas vem de Lucano e significa Iluminado.
[eu mantinha um silêncio]
- Lucas...
- Oi.
- Lucas era um médico, nascido em Antioquia. Filho de [nomes que não consigo me recordar] e...

Este diálogo se repetiu por várias ocasiões e ele sempre alterava a continuidade da história biográfica por algum outro assunto. Hoje, mantenho o suspense do restante deste diálogo, que ainda será concluído.



[Texto escrito em 14 de Julho de 2017]

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