O Misterioso Voo do Pavão


Por: Lucas Toledo

       Somos redutos de escolhas por toda a vida. E, de escolhas, consolidamos suas consequências que tracejam nosso caminho. O voo do Pavão foi o que me fez enxergar. Sentado próximo ao quintal da casa de meu avô, deparei-me com a escolha de esperar. Esperar para sanar uma dúvida, eliminar uma curiosidade e alimentar um conhecimento. Esperar pelo voo do pavão era uma escolha que traria desejos e frustrações. E surpresas.
       Num dia de verão, meus amigos me convidaram para conversar sem motivos, contar novidades e sobre o que almejavam. Meus pais programaram uma viagem despretensiosa, com o anseio de descansar da correria diária na companhia da família. Haveria até o jogo da final de um campeonato de futebol que passaria na televisão. Mas fiz a escolha: esperar.
       Estive sentado, quieto, com poucos movimentos e tantos motivos para me movimentar. O pavão parecia notar minha observação e, como desdém, resolvia agir, também, em poucos movimentos. E lá, fiquei por horas que nem ousei contar – mas foram mais de quatro – procurando não perder àquilo que escolhi. Tantas horas que muita coisa aconteceu e muita deixou de acontecer. Afinal, uma escolha dessas requer determinação, foco, disciplina. Concentração que desconcentrava em pensamentos perdidos, em intitulações e personificações, em sonhos acordados. Foi com este silêncio que dei nome à ave e desvendei os objetos e objetivos das escolhas.
 
       O resultado desta desventura foi observar o Mysterioso – como o chamei – subir no galho de um Flamboyant, posto na subida de um barranco e lá observar um destino sem motivo e, enfim, voar. Esta foi a Escolha do Pavão. Um animal de porte tão grande, parecia tanto ter asas de decoração. Faltava-lhe aerodinâmica. Mysterioso deixou claro que subiu naquela árvore e voou – coisa de 10 metros apenas – apenas para provar que suas escolhas eram independentes. Não eram boas ou ruins. E esta era a minha resposta praquele dia que vivi a espera de um voo. Era a resposta para ajudar nas minhas escolhas futuras e refletir sobre minhas escolhas passadas.
       Escolhas não são boas ou ruins, certas ou erradas. São somente escolhas. O decorrer das escolhas que, sim, pode ser medido e avaliado. Corri para contar para meus amigos daquilo que tinha percebido, mas meus amigos já não estavam a minha espera. Tampouco meus familiares, que foram viajar. E o jogo já havia acabado. A minha escolha refletiu em um caminho que não estava planejando. O voo do Pavão agora me fez enxergar ainda além: Não conseguimos mudar o passado, modificar nossas escolhas. Mas conseguimos interferir no caminho para o futuro, entender as consequências de cada escolha.

“Pavão misterioso
Pássaro formoso
Tudo é mistério
Nesse teu voar
Ai se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história
Eu tinha prá contar”

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