As Pedras do Caminho


     O poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, em 1928, apresentou uma de suas obras mais conhecidas, tornando-a um marco para o Modernismo Literário do Brasil: O Poema ‘No Meio do Caminho’. E em meio a dias tão turbulentos, entender quais são as pedras do nosso caminho é quase um pré-requisito de sobrevivência; e como lidar com elas é o que nos engrandece.

     Acordei outro dia e vi a notícia já calejada e por tantas vezes repetida, do número elevado de desempregados no país, fruto da crise econômico-político-institucional que já se perdura por anos. Lembrei de um diálogo que vivi com um grande amigo, em 2008, no qual o tema era “O Brasil nos próximos 10 anos”. Estávamos no Ensino Médio e parte do debate se dava, inclusive, sobre a reflexão das profissões que deveríamos seguir, já que o mercado estava aquecido e buscando cada vez mais por jovens capacitados. O cenário era positivo e as perspectivas, melhores ainda. O Brasil estava na crista da onda: Um ano antes, em 2007, sediou os Jogos Pan-Americanos e foi eleito para a sede da Copa do Mundo de 2014. O PIB não parava de crescer. Foi descoberto Petróleo na Camada pré-sal. O Presidente norte-americano na época, Barack Obama, chamou o então Presidente Lula de “O Cara”. No ano seguinte, fomos escolhidos como sede para os Jogos Olímpicos de 2016 e ainda vimos o Brasil fazer parte de um bloco de cooperação internacional junto com outras forças pujantes da economia global, os BRICS. O Brasil era destaque; era o país da moda e da vez. E num cenário tão bom que, se fosse um filme, nem o mais pessimista dos cineastas arriscaria propor um desfecho tão desastrado como foram os anos seguintes. Se o cineasta fosse Drummond, talvez o mesmo dissesse que foram as pedras no meio do caminho.
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     Pois bem. De lá pra cá, tantas coisas aconteceram que, brevemente, as perspectivas daquele diálogo se esvaíram. E o poema modernista, 90 anos depois, parece ganhar um ressignificado. Quando encontramos obstáculos, há um princípio de fraqueza e impotência. Mas é neste momento, que devemos agir. Por isso, sempre digo na necessidade de, logo de cara, definirmos ‘as pedras’ e buscarmos uma solução. Não com a ingenuidade de que não existirão outras pela frente, talvez até maiores e mais rígidas, mas com a clareza de que elas existirão para te elevar ainda mais.

     Se, hoje, você está desempregado ou com salário que mal consegue pagar as contas do mês, tenta ver a importância do seu voto na urna. Estamos há poucas semanas de definirmos nossas escolhas para o Brasil. Este ainda não será o momento de tirarmos as pedras do nosso caminho, mas, certamente, será o momento para escolhermos a estratégia que tentará nos colocar num caminho próspero.

     ‘As retinas tão fatigadas’, nossas e de Drummond, vão ajudar a lembrar e enfrentar o caminho e suas pedras, mas eu não ouso apostar em como o Brasil estará no ano de 2028.




(Coluna Torpedo do Dia, publicada em 24 de Agosto de 2018, na edição nº 6.865 do Jornal da Cidade, de Poços de Caldas)

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